sexta-feira, 28 de outubro de 2011

"O Auto da Barca do Inferno"

Caracterização das Personagens

CENA DO FIDALGO (DON ARNRIQUE)
Adereços que o caracterizam:
-pajem: desprezo pelos + pobres
-manto: vaidoso
-cadeira: julgava-se importante e poderoso

Argumentos de Defesa:
-Barca do Inferno é desagradável
-tem alguém na Terra a rezar por ele
-é “fidalgo de solar” e por isso deve entrar na barca do Céu
-é nobre e importante
                       
Pertence:
-à nobreza
                       
Acusações:
-ter levado uma vida de prazeres, sem se importar com ninguém
-ter sido tirano para com o povo
-ser muito vaidoso
-desprezava o povo
                       
Referência ao pai de Don Anrique porque:
-é uma denuncia social, porque também o pai do Fidalgo já tinha entrado na Barca do Inferno, isto é, toda a classe nobre tinha os mesmos pecados
                       
A movimentação dele em cena:
-1º foi á barca do Diabo que lhe explica para onde vai a barca e fala sempre em tom de ironia
-depois foi à barca do Paraíso para tentar a sua sorte, mas o Anjo acusa-o de tirania e disse-lhe de que de maneira nenhuma pode lá entrar
-o Fidalgo volta para a Barca do Inferno e o Diabo explica-lhe todos os seus pecados, fazendo com que ele fique muito triste e arrependido

Momentos psicológicos da personagem:
-ao principio o Fidalgo está sereno e seguro que irá para o Paraíso
-dirige-se à barca do Anjo, arrogante, e fica irritado porque ele não lhe responde e mostra-se arrependido e desanimado por ter confiado no seu “Estado”
-no fim dirige-se ao Diabo, mais humilde, pedindo-lhe que o deixe regressar à Terra para ir ter com a amante
                       
Crítica de Gil Vicente nesta cena:
-os nobres viviam como queriam (vida de luxúria)
-pensavam que bastava rezar e ir à missa para ir para o Céu

Características dadas às mulheres desse tempo:
-mentirosas
-infíeis
-falsas
-fingidas
-hipócritas
                       
Caracterização do Fidalgo:
-nobre (fidalgo de solar)
-vaidoso
-presunçoso do seu estado social
-o seu longo manto e o criado que carrega a cadeira representam bem a sua vaidade e ostentação
-a forma como reage perante o Diabo e o Anjo revelam a sua arrogância (de quem está habituado a mandar e a ter tudo)
-apresenta-se como alguém importante
-despreza a barca do Diabo chamando-lhe “cortiço”
-a sua conversa com o Diabo revela-nos que além da sua mulher tinha uma amante, mas que ambas o enganavam pois a mulher quando ele morreu chorava mas era de felicidade e a amante antes de ele morrer já estava com outro
-o Fidalgo é, pois, uma personagem tipo que representa a nobreza, os seus vícios, tirania, vaidade, arrogância e presunção

Desenlace:
-Inferno


CENA DO ONZENEIRO (USUÁRIO)
Símbolos cénicos:
-bolsão: representa o dinheiro
                       
Esta personagem pertence:
-à burguesia

“Oh! Que má-hora venhais,/ onzeneiro, meu parente!”:
-o Diabo revela, com este tratamento, que o Onzeneiro tem semelhanças com ele, é como se fossem membros da mesma família
-o Diabo sempre o ajudou a fazer o mal, a enganar os outros
-agora os papeis invertem-se: é a vez de o Onzeneiro ajudar o Diabo
                       
Defesas:
-ter morrido sem esperar
-não ter tido tempo de “apanhar” mais dinheiro (Esta queixa mostra que para esta personagem o dinheiro era importante)
-jura ter o bolsão vazio
-precisa de ir à Terra para ir buscar mais dinheiro (para comprar o Paraíso)

Acusações:
-Anjo: acusa-o de levar um bolsão cheio de dinheiro e o coração cheio de pecados, cheio de amor pelo dinheiro
-ser avarento (forreta ou sovina)

O Onzeneiro é condenado pelo Anjo ao Inferno porque:
-leva o coração cheio de pecados, cheio de amor pelo dinheiro e o bolsão representa esse dinheiro

O Onzeneiro interpreta a recusa do Anjo como:
- por não ter dinheiro não pode entrar no Paraíso, isto é, ele pensa que com o dinheiro pode comprar tudo e resolver tudo

A vida do Onzeneiro:
-avareza (só pensa em dinheiro)

Gil Vicente dá esta pobre caracterização à vida da personagem porque:
-todas as personagens são personagens tipo
-não podem representar características pessoais
                       
Desenlace:
-Inferno

CENA DO PARVO (JOANNE)
No passado o Parvo representava:
-uma pessoa pobre de espírito (pertencia ao povo)

Não tem referência ao passado porque:
-não agiu com maldade
-não tem pecados

Símbolos cénicos:
-não trás nada porque os símbolos cénicos estão relacionados com a verdade Terrena e os pecados cometidos
-o Parvo não tem qualquer tipo de pecados

Defesas:
-Anjo: tudo o que fez foi sem maldade e é simples

O Parvo não usa qualquer tipo de argumento para convencer o Anjo a deixá-lo entrar no Paraíso porque:
-não teve tempo de dizer nada, a sua entrada naquela barca foi autorizada de imediato
-o Anjo deixa-o entrar porque tudo o que fez foi sem maldade

“Quem és tu? / Samica alguém”:
-revela a sua simplicidade
-a resposta está relacionada com o seu destino que é o Paraíso
                       
Caracterização desta personagem:
-não trás símbolos cénicos com ele porque não tem qualquer tipo de pecados
-com simplicidade, ingenuidade e graça, auto-caracteriza-se ao Diabo como “tolo”
-queixa-se de ter morrido
-as suas atitudes ao longo da cena são descontraídas, o que irrita o Diabo que o quer na sua barca
-o Diabo é insultado por ele
-esses insultos revelam a sua pobreza de espírito
-apresenta-se ao Anjo como “Samica alguém” e este diz-lhe que entrará na sua barca, porque tudo o que fez foi sem maldade
                       
A minha opinião sobre esta cena:
-tem uma intenção lúdica: fazendo divertir quem está a assistir a esta peça
-também tem uma intenção de crítica: dizendo que os parvos são pessoas pobres de espírito e não têm intenção de fazer mal
-ajuda muito na crítica e faz os cómicos
                       
Desfecho:
-fica no caís e entra com os Quatro Cavaleiros

CENA DO SAPATEIRO (JOANATÃO)
Símbolos Cénicos:
-avental: simboliza a profissão
-carregado se formas de sapatos: simbolizam a sua profissão e vem carregado pelos seus pecados
                       
Esta personagem representa:
-o povo

Acusações:
-roubava
-enganava
-religião mal praticada

Defesas: (práticas religiosas)
-rezava e ia à missa ao fidalgo usou a mesma defesa
-fazia ofertas à igreja
-confessava-se
-fez todas as práticas religiosas

Crítica feita por Gil Vicente a todas as rezas:
-a forma superficial como os católicos praticavam a religião
-julgavam que as rezas, missas, comunhões, tinham mais valor que praticar o bem
Desfecho:
-Inferno


CENA DO FRADE (FREI BABRIEL)
Símbolos cénicos:

-hábito de frade
-escudo
-capacete
-espada
-moça (Florença)


Equipamento de esgrima




Críticas com esses símbolos:
-desajuste entre a vida religiosa e a vida que ele levava (vida mundana)
-os símbolos representavam a vida de prazeres que ele levava, o que o afastava do seu dever à crítica religiosa
                       
Pertencia:
-ao clero (mundano)
                       
Argumentos de Acusação:
-era mundano (coisas materiais, luxo, vida de prazeres)
-não respeitou os votos de castidade e de pobreza
                       
O Frade não nega as acusações feitas, pois:
-pensa que o facto de ser Frade e o seu hábito o vão salvar dos seus pecados
                       
Argumentos de Defesa:
-ser Frade
-rezou muito

Apresenta-se como cortesão:
-o que revela que ele frequentava a corte e os seus prazeres, era um frade mundano
                       
“Gentil padre mundanal”:
-contradição: encontra-se na palavra “mundanal” e “gentil”
-o Frade deveria ser uma pessoa dedicada à alma, ao espírito, mas é mundanal, vive os prazeres do mundo, por isso existe aqui uma contradição

Diabo-(...) E n os punham lá grosa / no vosso convento santo?
Frade- E eles faziam outro tanto!” revela que:
-havia uma quebra de votos de castidade , hábito comum entre eles
-esta afirmação alarga a crítica a toda a classe social, pois o Frade é uma personagem tipo, representando toda uma classe social

Uso do facto de ser Frade naquele tempo:
-pretende mostrar que o clero se mostrava superior
-poderia fazer o que quisesse sem ser condenado
-mal-estar na sociedade por serem cada vez mais frequentes os Frades ricos e poderosos
                       
O Anjo recusa-se a falar com o Frade porque:
-tem vergonha do seu réu
-não tinha coragem de falar com alguém do clero com tantos pecados (repugnante)

Frade aceita a sentença porque:
-viu que o Anjo não quis falar com ele
-porque não cumpriu as regras que deveria ter cumprido
-se o Anjo se recusa a falar com ele é porque todos os seus pecados foram graves
                       
Caracterização do Frade:
-auto-caracteriza-se “cortesão” (frequentava a corte) o que entra em contradição com a sua classe
-sabe dançar tordilhão e esgrimir às qualidades típicas de um nobre
-é alegre pois chega ao cais a cantar e a dançar
-tal como os outros Frades não cumpriu o voto de castidade nem de pobreza, como se comprovava com as suas palavras
-está convencido que por ser membro da Igreja tem entrada directa no Paraíso
-personagem tipo através da qual se critica o clero
 
CENA DA ALCOVITEIRA (BRÍZIDA VAZ)
Símbolos Cénicos:
-seiscentos virgos postiços
-três arcas de feitiços
-três almários de mentir
-jóias de vestir
-guarda-roupa
-casa movediça
-estrado de cortiça
-dous coxins
(todos estes símbolos representavam a sua actividade da alcoviteira ligada à prostituição)
                       
Tipo:
-alcoviteira
                       
Quando o Diabo sabe que é Brízida Vaz que está no cais ele fica:
-contente: sabe que ela tem muitos pecados, é por isso mais uma passageira para a sua barca
-surpreso / admirado: não esperava por ela tão cedo
-surpreendido

Com o campo semântico da mentira ela revela que:
-é hipócrita
-tenta fazer-se de vítima perante o Diabo para convencê-lo do que lhe interessa
-hábil mentirosa

Quando o Diabo a convida a entrar ela:
-diz, com alguma arrogância, que não entra sem o Fidalgo

Perante o Anjo, Brízida Vaz usa outras tácticas:
-a sedução: muda o seu tom de voz tentando seduzir o Anjo
-usa vocabulário de cariz religioso: para o Anjo ter pena dela7

Quando fala com o Anjo, ela usa um vocabulário de cariz religioso para:
-ele ter pena dela
-a deixar entrar na sua Barca
-a achar uma boa pessoa

Argumentos de Acusação:
-viveu uma má vida (prostituição)

Argumentos de defesa:
-diz que já sofreu muito
-que arranjou muitas “meninas” para elementos do clero

Caracterização de Brízida Vaz:
-chegando ao cais na barca do Inferno, recusa-se a entrar sem o Fidalgo, provavelmente eram conhecidos
-diz que não é a barca do Diabo que procura
-leva vários elementos cénicos relacionados com a sua profissão de alcoviteira
-está sempre confiante de que vai entrar na barca do Anjo
-defende-se dizendo que sofreu muito,
- que arranjou muitas “meninas” para elementos do clero e que está orgulhosa por ter arranjado “dono” para todas as suas “meninas”
-quando vai à barca do Anjo muda completamente a sua atitude, usando mais o vocabulário de cariz religioso e tentando seduzir o Anjo e fazer-se de boa pessoa

Desenlace:
-Inferno

CENA DO JUDEU (SEMAH FARÁ)
Símbolos Cénicos:
-bode: representa a sua religião

Tipo:
-Judeu

Chega ao cais o Judeu dirige-se para a barca do Inferno porque:
-sabe que não será aceite na barca do Anjo, já que em vida nunca foi aceite nos lugares dos Cristãos
-os Judeus eram muito mal vistos na época e nem poderia admitir a hipótese de entrar na barca do Anjo

Para entrar na Barca do Inferno ele usa:
-o dinheiro
                       
Ele usa o dinheiro porque:
-era uma forma de mostrar que os Judeus tinham grande poder económico, estavam ligados ao dinheiro

O Judeu não quer deixar o bode em terra porque:
-quer ser reconhecido como Judeu
-não recusa a sua religião
                       
O Parvo acusa-o de:
-roubar a cabra
-ter cometido várias ofensas à religião cristã e de comer carne no dia de jejum...
-ser Judeu

Em termos de contexto histórico essa acusação:
-revela que os Cristãos odiavam os Judeus
-acusavam-nos de enriquecer à custa de roubos de Natureza diversa
-acusavam-nos de ofender a religião católica, cometendo diversas profanações
                       
Desenlace:
-fica no cais (porque ninguém o quer)

CENA DO CORREGEDOR E DO PROCURADOR
Símbolos Cénicos:
-Corregedor: vara e processos
-Procurador: livros jurídicos

Pertenciam:
-Corregedor: Juiz
-Procurador: Funcionário da Coroa

O Diabo cumprimenta o Corregedor com “Oh amador de perdiz” porque:
-era uma pessoa corrupta
-a perdiz era um símbolo de corrupção
- A forma como o Corregedor inicia o diálogo com o Diabo aproxima-se da forma como o Fidalgo também o fez

O Corregedor usa muito o Latim porque:
-é uma língua muito usada em direito

O Diabo responde-lhe em Latim Macarrónico porque:
-era para ridicularizar a linguagem utilizada na justiça
-para mostrar que essa linguagem não servia de nada
-poderiam saber falar bem Latim mas não sabiam aplicar as leis

O Corregedor pergunta “Há’ qui meirinho do mar?” porque:
-ele estava habituado a ser servido

O Corregedor pergunta se o poder do barqueiro infernal é maior do que o do próprio Rei porque:
-ele na Terra tinha um grande poder
-não admitia que mandassem nele

Acusações do Procurador:
-não tem tempo de se confessar

O Diabo acusa o Corregedor de:
-ter aceitado subornos (ser corrupto)
-ter aceitado subornos até de Judeus (muito mal vistos naquele tempo)
-confessou-se mas mentiu

Defesas:
-era a sua mulher que aceitava os subornos

Acho que o argumento usado de defesa do réu foi:
-errado
-o Diabo saberia de tudo
-ele não deveria estar a mentir
-não devia estar a acusar a sua mulher para depois também ela ser condenada
                       
“Irês ao lago dos danados / e verês os escrivães / coma estão tão prosperados” quer dizer que:
-o Corregedor, quando for para o Inferno, vai encontrar os seus colegas (Homens ligados à justiça)

Gil Vicente julgou em simultâneo o Corregedor e o Procurador porque:
-ambos passavam informação
-ambos faziam parte da justiça
(havia cumplicidade entre a justiça e os assuntos do Rei, ambos eram corruptos)

A confissão para eles:
-não era importante: só se confessavam em situações de risco e não diziam a verdade

Quando o Corregedor e o Procurador se aproximam do Anjo, ele:
-reage mal
-fica irritado
-manda-lhes uma praga: atitude nada normal do Anjo

O Parvo acusa-os de:
-roubar coelhos e perdizes
-profanar nos campanários: levavam a religião de uma forma superficial

Desenlace:
-Inferno

No Inferno o Corregedor dialoga com Brízida Vaz porque:
-já se conheceriam da vida terrena

CENA DOS QUATRO CAVALEIROS
Símbolos Cénicos:
-hábito da ordem de Cristo
-espadas
                       
Pertenciam:
-aos cruzados

Defesas:
-dizem que morreram a lutar contra os mouros em nome de Cristo

Quando chegam ao cais chegam a cantar. Essa cantiga mostra:
-aos mortais que esta vida é uma passagem e que terão de passar sempre naquele cais onde serão julgados

Joana Silva

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